terça-feira, 14 de maio de 2013

SOBRE O “MEMORIAL DO CONVENTO”


Ao acompanhar os estudos dos meus filhos, dei particular atenção às obras de literatura portuguesa de leitura obrigatória para os alunos do secundário, onde se inclui, com grande relevo, o Memorial do Convento de José Saramago.
Está fora de questão o mérito literário de José Saramago, que lhe valeu o Prémio Nobel e que faz com que já me tenha deparado com traduções das suas obras em escaparates de livrarias de vários países.
Mas não posso deixar de sublinhar a forma repetitiva, insistente, quase obsessiva, como nessa obra está presente a crítica à religião católica. Esta é associada à intolerância inquisitorial, à superstição ridícula, à repressão da sexualidade (também esta uma obsessão), ao luxo e ao fausto em contraste com a pobreza, mas também ao dolorismo masoquista sob a capa da penitência. A cada passo, de modo que se vai tornando cada vez mais previsível, surgem as provocações ofensivas e blasfemas, por vezes a roçar o mau gosto.
Poder-se-ia pensar que o alvo dessa crítica não é a cristianismo na sua essência, ou o catolicismo na sua essência, mas apenas uma sua expressão histórica, a que deu origem à Inquisição, ou a do período barroco, que sempre poderiam ser criticadas, até pelo seu contraste com a pureza da mensagem cristã. Não podemos esquecer os sucessivos pedidos de perdão do Papa João Paulo II pelos erros históricos dos “filhos da Igreja”, onde se inclui, entre outros, o uso da violência (através da Inquisição) ao serviço da pretensa defesa da verdade da fé (ver, por exemplo, o livro de Luigi Accattoli, Quando o Papa Pede Perdão, na sua tradução portuguesa, Paulinas, 1997). Mas as críticas de Saramago vão mais a fundo, atingem a própria essência da mensagem, as suas raízes bíblicas e evangélicas, como se comprova pela leitura de outros dos seus livros mais famosos, O Evangelho segundo Jesus Cristo e Caim.    
A esta visão (desfigurada) da Igreja Católica deveria ser contraposta outra face: a dos seus santos e a do papel que desempenhou historicamente (e desempenha), na defesa da dignidade da pessoa, dos pobres e doentes, da cultura e da arte.
A crítica cerrada do Memorial do Convento ao catolicismo denota, além do mais, incompreensão e desprezo pela cultura portuguesa, a erudita e a popular.
Também seria oportuno contrapor a essa crítica o que diz Bento XVI na encíclica Deus Caritas Est. Respondendo ao filósofo Nietzche, que acusa o cristianismo de, com os seus mandamentos e proibições, tornar amargas as coisas belas da vida, o agora Papa emérito afirma que, pelo contrário, nessas coisas podemos encontrar uma alegria pensada pelo Criador, a qual nos faz pressentir o divino, porque Deus não nos tira nada do que é humanamente bom, antes o quer purificar e conduzir à plenitude.
O que me leva a escrever estas observações não é a intenção de reacender as polémicas que envolveram a obra de Saramago, nem quero fazer a seu respeito um juízo de intenções, agora que já não está connosco e quando espero que se tenha aberto à infinita misericórdia de Deus.
O que me preocupa é que, perante a tristemente generalizada falta de cultura religiosa dos nossos jovens (muito maior do que a de outras gerações), estes só venham a conhecer a Igreja católica (e mesmo o cristianismo) através da visão distorcida que deles é dada pelo Memorial do Convento.
Longe de mim advogar a censura à obra de Saramago. Mas a mesma liberdade de expressão que lhe reconheço deve servir para apontar os limites dessa obra. Nem o seu alcance internacional, nem mesmo o prémio Nobel, lhe conferem qualquer aura de intocabilidade. A sensação que tive quando reli agora o Memorial do Convento é certamente a que tiveram muitos dos professores e estudantes que o lêem por obrigação. Não devem ter receio de dizer em voz alta e publicamente o que pensam. Nem devemos aceitar passivamente que seja esta obra a formar as mentes dos nossos jovens sobre a Igreja Católica.                                                                                     


Pedro Vaz Patto, in A Voz da Verdade

CRISTIANISMO E CULTURA NO CONTEXTO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO


O Centro Católico de Cultura da Diocese de Vila Real vai acolher, no seu Auditório, no dia 20 de Maio, a partir das 10h30, uma acção de formação para sacerdotes e leigos.  Esta acção constará de uma conferência a cargo do Doutor Arnaldo de Pinho, que terá por título: “Cristianismo e Cultura no contexto da Nova Evangelização”
A acção destina-se aos sacerdotes da Diocese e também aos leigos, de forma especial os que frequentaram o Curso de Ciências Religiosas e os que actualmente frequentam a Escola Diocesana de Educação da Fé.
As pessoas que quiserem almoçar no Seminário devem fazer a sua inscrição na portaria até ao dia 18 de Maio.