terça-feira, 31 de dezembro de 2013

D. JOAQUIM GONÇALVES


FALECEU O SENHOR DOM JOAQUIM GONÇALVES

BISPO EMÉRITO DA DIOCESE DE VILA REAL


Faleceu hoje, pelas 16.00h, na Póvoa de Varzim, onde residia com o irmão padre e uma irmã, enfermeira aposentada, vítima de ataque cardíaco.

Naturalidade

Nasceu aos 17.05.1936 na freguesia de Revelhe (lugar de Cortegaça, concelho de Fafe, Arquidiocese e Distrito de Braga, filho de António Gonçalves e de Albertina Rodrigues Ferreira e Melo, sendo o terceiro de oito filhos.
Na aldeia fez a escola primária.

Estudos

Desde 1948 a 1960 frequentou e concluiu os cursos de Humanidades, Filosofia e Teologia nos Seminários Arquidiocesanos de Braga, sendo ordenado Presbítero aos 10.07.1960, na capela do Seminário Conciliar de Braga.
Nesse mesmo ano foi nomeado Coadjutor da paróquia de S. José de Ribamar – Póvoa de Varzim, e professor de Educação Moral e Religiosa Católica no então Liceu Eça de Queiroz até 1976, sendo também Assistente local do CNE (Escutismo Católico Português) e das ENS (Equipas de Nossa Senhora) e do CPM (Centro de Preparação para o Matrimónio), deste em plano nacional.
Em 1974 licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, disciplina que leccionou nas Escolas Secundárias de Barcelos, Eça de Queiroz na Póvoa de Varzim e Sá de Mirande em Braga, de que foi professor efectivo.

Vida episcopal

Em 18 de Outubro de 1981, na cripta da Basílica do Sameiro (Braga, foi ordenado Bispo Auxiliar de Braga, com o título de Ursona (Osuna, cidade vizinha de Sevilha), sendo o primeiro bispo natural do concelho de Fafe.
Trabalhou na Arquidiocese até 1987 e em Maio desse ano foi nomeado Bispo Coadjutor de Vila Real, de que tomou posse canónica  aos 24.061987, e onde entrou solenemente aos 28 do mês de Junho desse ano.
A 18.01.1991 tornou-se o 4.º Bispo da Diocese.
Na Conferência Episcopal Portuguesa foi membro da “Comissão Episcopal das Migrações e Turismo”,da “Comissão Episcopal de Liturgia e Presidente da Comissão Episcopal das Missões”e fez parte do Conselho Superior da Universidade Católica Portuguesa
Em 13.10.1987, ainda Bispo Coadjutor, dava início à publicação da IGREJA DIOCESANA - Folha de Informação e Comunhão Pastoral da Diocese de Vila Real, em folhas fotocopiadas. O último número  data de Dezembro de 1993. Reapareceria mais tarde com o mesmo título, como Jornal trimestral e ainda continua..
Organizador e organizado, em Abril de 1989 publicava os Estatutos do Arciprestado, acompanhou muito de perto a revisão dos Estatutos do Conselho Presbiteral, publicados na segunda versão e a primeira depois da publicação do novo Código de Direito Canónico, em 1989, aprovados pelo senhor D. António Cardoso Cunha. Promoveu festa de homenagem e despedida ao senhor D. António Cardoso Cunha, em 16 de Fevereiro de 1991, que, devido às disposições conciliares, pediu a resignação aos 75 anos e lhe seria concedida a 19 de Janeiro 1991.
O Centro Católico de Cultura seria criado em Novembro de 1991; em Junho de 1991 foram os Estatutos do Conselho Económico Paroquial.
Citemos ainda os Planos de Pastoral, com sugestões para as próprias actividades a realizar, ao longo de vários anos.
Para o Clero instituiu as recolecções mensais, o Dia de Retiro no princípio da Quaresma e animou a construção da Casa para o Clero idoso ou doente.

Trabalhos publicados

Durante os anos de vida académica colaborou nos jornais rgionais: Povo de Fafe e Diário do Minho, e já sacerdote, no Seminário Ala Arriba da Póvoa do Varzim, e na revista de pastoral Celebração Litúrgica (Braga).
Publicou no «Boletim do CPM» um trabalho de pastoral social sobre “A Dimensão Social do Matrimónio” e um outro sobre “O Apostolado do Doente” no II Congresso de Problemas de Apostolado, em Braga.
Do seu magistério episcopal há algumas homilias publicadas no Boletim oficial da Arquidiocese de Braga – “Acção Católica” e tem colaboração variada, ao longo dos vários anos de Bispo em Vila Real, no semanário “A Voz de Trás-os-Montes” e, muitas vezes, no pequenino Boletim “Ave Maria”.
Publicou, por ocasião dos 75 anos da Diocese, a Pastoral «Um Povo em Festa», na Páscoa de 1993, a reflexão pastoral sobre as Festas Religiosas – texto de reflexão e normativo e um livrinho, muito simples, acessível a todos, sobre o Baptismo.
Possui inéditos alguns textos poéticos, um deles – A Noiva do Marão – musicado para uma cantata por J. Santos e executada em Roma,  A Travessia – poema Transmontano – por ocasião do”XXV aniversário da minha Ordenação”, em 18 de Outubro de 2006, em oratória, publicada em livro e em CD, executada em Roma (onde foi gravada) e em todos os concelhos da Diocese. .
Lembremos ainda os opúsculos sobre os Vitrais da Catedral, sobre a Igreja do Carmo, em Vila Real e o Outro Jonas onde revive a experiência da passagem à vida, quando do transplante.

Não é possível referenciar tudo… tão vasta e variada é a sua obra.

Homem experimentado no sofrimento

Quando veio para Vila Real, acompanhava-o uma preocupação: a sinusite que o perseguia desde há anos. E, de facto, numa das primeiras noites sentiu-se mal. Chamado o médico do Seminário, o já falecido Dr. Campos (Filho) disse-lhe: “Senhor Bispo, não se trata de sinusite, ou eu me engano muito ou é do coração. Consulte quanto antes um bom cardiologista. Olhe que as coisas não estão bem”. E no dia seguinte foi ao Porto e já não voltou para Vila Real sem a operação às coronárias. A 12 de Janeiro de 2008, é novamente operado, desta vez para receber o transplante, o 1.º em Portugal numa pessoa com idade tão avançada. Foi o sucesso que lhe permitiu viver até hoje.

A Igreja e a Diocese perdem um grande bispo, de palavra fácil, bom comunicador, com grande capacidade de adaptação ao auditório, acessível à gente mais simples, com um sentido muito grande de pastoral.

Senhor Dom Joaquim, a Diocese de Vila Real está-lhe muito grata e pede ao Senhor da Messe e Cabeça da Igreja que lhe abra as portas do seu Reino. 



Vila Real, 31 de Dezembro de 2013

sábado, 14 de dezembro de 2013

MENSAGEM DE NATAL DO SENHOR BISPO DE VILA REAL


Apóstolos captados e marcados pela alegria de Jesus Cristo

Diz o Papa, na recente Exortação Apostólica Pós-Sinodal que a “Alegria do Evangelho”, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária (n.21). De facto, a Boa Nova de Cristo, gratifica, é digna de crédito, fecunda e base da esperança, que se alicerça na Palavra de Deus que interpela, nos leva para fora de nós, a acolher e a anunciar o dom recebido do amor, que sempre comunicável, convidativo, que leva ao êxodo, à saída, ao dom de si, enriquecendo quem o dá e quem o recebe.
1. - A Igreja de Deus, enviada, por Cristo, em missão e animada, pelo Espírito, escuta, recebe, vive, anuncia e espelha a alegria messiânica da libertação, vinda de Deus, para mover os corações e ser transmitida, por irradiação e contágio. Esta alegria salvífica faz parte do núcleo do mistério do Natal e foi anunciada à Virgem Maria e aos pastores. Os discípulos de Jesus comunicam-na, após a Páscoa, para que todos a transmitam e a recebam, crendo e beneficiando da eficácia da morte e ressurreição do Senhor, que se revela, no júbilo e união da Igreja, que vive da fé no Ressuscitado, na esperança do Seu retorno. Certos de Jesus estar vivo e dar a vida e a glória do Pai, como as testemunhas oculares, repletos de alegria anunciamos o júbilo e a esperança da Vinda do Senhor. Os discípulos que sucedem aos Apóstolos e ás testemunhas oculares transmitem a alegria do testemunho recebido, dando de graça o que de graça receberam, fiéis e obedientes ao mandato missionário do Ressuscitado que enviou amigos, seguidores e discípulos, pelo mundo inteiro, a testemunhar a maravilha do Seu amor e a grande alegria da Sua Vinda e Ressurreição: “Ide, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo o que vos tenho mandado” (Mt 28, 19-20).
A Igreja de Cristo vive, sempre, em êxodo, de saída para as periferias, ao encontro dos homens necessitados, famintos da verdade e amor, que só Cristo lhes assegura. Ele é o amor e a verdade, por excelência, que está no seio do Pai, donde provém, para, por Ele e n’Ele, obtermos a vida divina, que é dada aos que crêem no Filho de Deus. A Sua vinda, morte e gloriosa ressurreição são a razão de ser da perene alegria e salvação. Esta grande alegria, que muda e converte os corações, é evangelizadora, transmite o evangelho da libertação, a grata e boa notícia vinda até nós, a modificar e aperfeiçoar tudo e a dar esperança e sentido à vida humana e terrena.
2.- A Palavra de Deus, que ilumina e interpela o homem, convida-o, sempre, a sair de si e da casa, a deixar-se a si mesmo, a descentrar-se, a despojar-se e a ir ao encontro do outro e da terra, que Deus promete, mostra e assegura, como dom da Sua bondade. Assim sucedeu, com Abraão, Moisés e os Profetas, convidados a deixar a terra, a ir e a sair, rumo à terra que Deus lhes prometeu e para a missão, que lhes confiou. Como diz o Papa: “somos chamados a aceitar o convite a sair da comodidade e à coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (n. 20).  
Deus tem, sempre, a iniciativa, está e deve estar, sempre, em primeiro lugar, devendo o discípulo de Cristo ser devorado pelo desejo de tornar Deus conhecido e amado, dando a conhecer o Seu divino Filho e nosso Salvador, Mestre e Senhor. A alegria, que foi anunciada, pelos Anjos aos pastores de Belém e vivida pelos Discípulos, que viram Jesus Ressuscitado, nasce e expande-se, graças ao encontro, na doce intimidade e união, com o Ressuscitado. A alegria provém do encontro com Deus, do Seu amor que nos toca, que de nós se apodera e que nos amou primeiro.
3.- A Igreja de Deus, enviada pelo Ressuscitado a fazer discípulos, a baptizar, ensinar e dar testemunho do mistério do amor de Deus, manifestado, em Seu Filho, que desceu dos céus, para procurar e salvar os doentes, perdidos e pecadores, não se deve fechar em si mesma, acabrunhada, a anunciar a morte e o desespero, sempre triste, depois do Seu Mestre, Senhor e Esposo, livremente, se ter entregado, por nós, em redenção, fazendo o bem e assegurando ao mundo a esperança e a alegria.
As Paróquias e Famílias devem ser escola, púlpito, espaço de comunhão e participação e criar proximidade e solidariedade das pessoas, formando os agentes da missionação e transmitindo aos outros a vivência e o anúncio de Cristo. É Cristo, que, pelo Seu Espírito, nos galvaniza, move e suscita, em nós, a alegria messiânica, que provém da Fé na Encarnação, Vida, Morte e Ressurreição do Filho de Deus glorificado que está connosco, vive e actua na Igreja, irradiando a alegria e a caridade de Deus, no mundo.
4.- Já, em pleno Advento, à espera do Natal, na Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santíssima, padroeira da Diocese, que é o pré-anúncio e a aurora da Vinda e da Encarnação do Filho de Deus, exorto a anunciar, testemunhar e a fazer discípulos de Cristo. Peço, para colocar os bens salvíficos, que Deus nos dá, em prol dos que vivem nas periferias da ignorância, do abandono, da solidão, do desespero e da pobreza material, moral e espiritual, cientes de que a Luz de Deus brilha, nas trevas, para ser recebida e tornar filhos e herdeiros, não nascidos da carne, do sangue ou da vontade humana, mas de Deus (Jo 1,13), a fim de que a Sua de Cristo, que, em nós, se espelha, brilhe diante dos homens e todos se congreguem na glória e alegria de Deus Pai.
Desejo aos caros Diocesanos a alegria, a paz e as bênçãos, que os Anjos comunicaram aos pastores de Belém, para que o Evangelho de Jesus converta as consciências e os corações, participando da glória e dos frutos da Sua vinda, dando aos outros o nosso testemunho de amor fraterno, na alegria redentora da missão cristã.

+ Amândio José Tomás, bispo de Vila Real

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

AS TRÊS VINDAS DE CRISTO


         No tempo que nos conduz ao Natal, temos sempre como pano de fundo as duas vindas de Cristo de que nos fala o Novo Testamento: a sua vinda no tempo histórico determinado por Deus e a sua segunda vinda (a Parusia), da qual não sabemos o dia nem a hora. Sobre esta segunda vinda, reza um dos prefácios eucarísticos do Advento:
Vós nos escondestes o dia e a hora,
em que Jesus Cristo, vosso Filho,
Senhor e juiz da história,
aparecerá sobre as nuvens do céu
            revestido de poder e majestade.
Nesse dia tremendo e glorioso,
Passará o mundo presente
E aparecerão os novos céus e a nova terra.
Entre estas duas vindas, situa-se aquela que acontece na vida da Igreja, em cada um dos seus membros, iluminando e fortalecendo o seu dia a dia. Essa não tem lugar nem tempo marcado, nem é esperada para o fim dos tempos, mas dá-se sempre que nós, tocados pelo sopro do Espírito, deixamos que Cristo entre e tome conta da nossa vida. Ele avisa-nos da sua chegada e pede que o recebamos: “Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3, 20). Falando desta vinda presente, o mesmo prefácio continua:
Agora Ele vem ao nosso encontro,
em cada homem e em cada tempo,
para que O recebamos na fé e na caridade
e demos testemunho da gloriosa esperança do seu reino.
Se olharmos de novo para o texto de Ap 3, 20, ao qual poderíamos juntar outros, como por exemplo Lc 24, 13-35 (o encontro do Ressuscitado com os discípulos de Emaús), damo-nos conta de que aquele que venceu a morte, também agora, no momento presente, nos quer fazer participantes do banquete do seu Reino, o qual tem a sua expressão terrena na Eucaristia. É nela que Jesus Cristo ressuscitado se torna presente, irrompendo com toda a sua força para nos ajudar a cristificar a vida. Nela afirmamos convictamente “Ele está no meio de nós”, mas tal asserção de fé só se torna real se levarmos a sério a Eucaristia.
Em tal contexto litúrgico e vital, o sacerdote cristão aparece como aquele que torna actual esta presença eucarística de Cristo. Sem sacerdócio não existiria Eucaristia, mas também sem Eucaristia o sacerdócio não teria razão de ser, nem sequer existiria a Igreja (cf. João Paulo II, A Igreja vive da Eucaristia, caps. II e III). Neste mistério radica a grandeza do sacerdócio e ao mesmo tempo a sua condição de serviço humilde à Igreja, que torna possível a presença luminosa e operante de Cristo em cada baptizado. Daqui deriva também a gratidão profunda que todos os fiéis cristãos, que participam do sacerdócio baptismal, devem ter para com Cristo, que lhes doou o sacerdócio ministerial.
A gratidão de que acabámos de falar não nos pode levar  a pensar no sacerdócio cristão como constitutivo duma casta que tudo sabe e detém todo o poder, à maneira do sacerdócio judaico do tempo de Jesus. A este propósito, são oportunísimas as palavras de Bento XVI, na sua carta aos sacerdotes: «Neste contexto, há que recordar o caloroso e encorajador convite feito pelo Concílio Vaticano II aos presbíteros para que "reconheçam e promovam sinceramente a dignidade e participação própria dos leigos na missão da Igreja. Estejam dispostos a ouvir os leigos, tendo fraternalmente em conta os seus desejos, reconhecendo a experiência e competência deles nos diversos campos da actividade humana, para que, juntamente com eles, saibam reconhecer os sinais dos tempos"».
Reconhecer os sinais dos tempos: eis um grande desafio lançado a toda a Igreja e, por ela, ao mundo de hoje.

NOTA: A este propósito, recomendamos a leitura do Sermão de São Bernardo que hoje nos é proposto na Liturgia das Horas (ofício de leitura da quarta-feira da primeira semana do Advento).

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

DESAFIOS PASTORAIS DA FAMÍLIA NO CONTEXTO DA EVANGELIZAÇÃO - DOCUMENTO PREPARATÓRIO

III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos
DESAFIOS PASTORAIS DA FAMÍLIA NO CONTEXTO DA EVANGELIZAÇÃO
DOCUMENTO PREPARATÓRIO
Vaticano 2013

I – O SÍNODO: FAMÍLIA E EVANGELIZAÇÃO
A missão de pregar o Evangelho a cada criatura foi confiada diretamente pelo Senhor aos seus discípulos, e dela a Igreja é portadora na história. Na época em que vivemos, a evidente crise social e espiritual torna-se um desafio pastoral, que interpela a missão evangelizadora da Igreja para a família, núcleo vital da sociedade e da comunidade eclesial.
Propor o Evangelho sobre a família neste contexto é mais urgente e necessário do que nunca. A importância deste tema sobressai do facto que o Santo Padre decidiu estabelecer para o Sínodo dos Bispos um itinerário de trabalho em duas etapas: a primeira, a Assembleia Geral Extraordinária de 2014, destinada a especificar o “status quaestionis” e a recolher testemunhos e propostas dos Bispos para anunciar e viver de maneira fidedigna o Evangelho para a família; a segunda, a Assembleia Geral Ordinária de 2015, em ordem a procurar linhas de ação para a pastoral da pessoa humana e da família.
Hoje perfilam-se problemáticas até há poucos anos inéditas, desde a difusão dos casais de facto, que não acedem ao matrimónio e às vezes excluem esta própria ideia, até às uniões entre pessoas do mesmo sexo, às quais não raramente é permitida a adoção de filhos. Entre as numerosas novas situações que exigem a atenção e o compromisso pastoral da Igreja, será suficiente recordar: os matrimónios mistos ou inter-religiosos; a família monoparental; a poligamia; os matrimónios combinados, com a consequente problemática do dote, por vezes entendido como preço de compra da mulher; o sistema das castas; a cultura do não-comprometimento e da presumível instabilidade do vínculo; as formas de feminismo hostis à Igreja; os fenómenos migratórios e reformulação da própria ideia de família; o pluralismo relativista na noção de matrimónio; a influência dos meios de comunicação sobre a cultura popular na compreensão do matrimónio e da vida familiar; as tendências de pensamento subjacentes a propostas legislativas que desvalorizam a permanência e a fidelidade do pacto matrimonial; o difundir-se do fenómeno das mães de substituição (“barriga de aluguer”); e as novas interpretações dos direitos humanos. Mas sobretudo no âmbito mais estritamente eclesial, o enfraquecimento ou abandono da fé na sacramentalidade do matrimónio e no poder terapêutico da penitência sacramental.
A partir de tudo isto compreende-se como é urgente que a atenção do episcopado mundial, “cum et sub Petro”, enfrente estes desafios. Se, por exemplo, pensarmos unicamente no facto de que no contexto atual muitos adolescentes e jovens, nascidos de matrimónios irregulares, poderão nunca ver os seus pais aproximar-se dos sacramentos, compreenderemos como são urgentes os desafios apresentados à evangelização pela situação atual, de resto difundida em todas as partes da “aldeia global”. Esta realidade encontra uma correspondência singular no vasto acolhimento que tem, nos nossos dias, o ensinamento sobre a misericórdia divina e sobre a ternura em relação às pessoas feridas, nas periferias geográficas e existenciais: as expectativas que disto derivam, a propósito das escolhas pastorais relativas à família, são extremamente amplas. Por isso, uma reflexão do Sínodo dos Bispos a respeito destes temas parece tanto necessária e urgente quanto indispensável, como expressão de caridade dos Pastores em relação a quantos lhes são confiados e a toda a família humana.

II – A IGREJA E O EVANGELHO SOBRE A FAMÍLIA
A boa nova do amor divino deve ser proclamada a quantos vivem esta fundamental experiência humana pessoal, de casal e de comunhão aberta ao dom dos filhos, que é a comunidade familiar. A doutrina da fé sobre o matrimónio deve ser apresentada de modo comunicativo e eficaz, para ser capaz de alcançar os corações e de os transformar segundo a vontade de Deus manifestada em Cristo Jesus.
A propósito das fontes bíblicas sobre o matrimónio e a família, nesta circunstância apresentamos somente as referências essenciais. Também no que se refere aos documentos do Magistério, parece oportuno limitar-se aos documentos do Magistério universal da Igreja, integrando-os com alguns textos emanados pelo Pontifício Conselho para a Família e atribuindo aos Bispos participantes no Sínodo a tarefa de dar voz aos documentos dos seus respetivos organismos episcopais.
Em todas as épocas e nas culturas mais diversificadas nunca faltou o ensinamento claro dos Pastores, nem o testemunho concreto dos fiéis, homens e mulheres que, em circunstâncias muito diversas, viveram o Evangelho sobre a família como uma dádiva incomensurável para a sua própria vida e para a vida dos seus filhos. O compromisso a favor do próximo Sínodo Extraordinário é assumido e sustentado pelo desejo de comunicar esta mensagem a todos, com maior incisividade, esperando assim que «o tesouro da revelação confiado à Igreja encha cada vez mais os corações dos homens» (DV 26).
O projeto de Deus Criador e Redentor
A beleza da mensagem bíblica sobre a família tem a sua raiz na criação do homem e da mulher, ambos criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 24-31; 2, 4b-25). Ligados por um vínculo sacramental indissolúvel, os esposos vivem a beleza do amor, da paternidade, da maternidade e da dignidade suprema de participar deste modo na obra criadora de Deus.
No dom do fruto da sua união, eles assumem a responsabilidade do crescimento e da educação de outras pessoas, para o futuro do género humano. Através da procriação, o homem e a mulher realizam na fé a vocação de ser colaboradores de Deus na preservação da criação e no desenvolvimento da família humana.
O Beato João Paulo II comentou este aspecto na Familiaris consortio: «Deus criou o homem à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26 s.): chamando-o à existência por amor, chamou-o ao mesmo tempo ao amor. Deus é amor (1 Jo 4, 8) e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão (cf. “Gaudium et spes”, 12). O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação de cada ser humano» (FC 11).
Este projeto de Deus Criador, que o pecado original deturpou (cf. Gn 3, 1-24), manifestou-se na história através das vicissitudes do povo eleito, até à plenitude dos tempos, pois mediante a encarnação o Filho de Deus não apenas confirmou a vontade divina de salvação, mas com a redenção ofereceu a graça de obedecer a esta mesma vontade.
O Filho de Deus, Palavra que se fez carne (cf. Jo 1, 14) no seio da Virgem Mãe, viveu e cresceu na família de Nazaré, e participou nas bodas de Caná, cuja festa foi por Ele enriquecida com o primeiro dos seus “sinais” (cf. Jo 2, 1-11). Ele aceitou com alegria o acolhimento familiar dos seus primeiros discípulos (cf. Mc 1, 29-31; 2, 13-17) e consolou o luto da família dos seus amigos em Betânia (cf. Lc 10, 38-42; Jo 11, 1-44).
Jesus Cristo restabeleceu a beleza do matrimónio, voltando a propor o projeto unitário de Deus, que tinha sido abandonado devido à dureza do coração humano, até mesmo no interior da tradição do povo de Israel (cf. Mt 5, 31-32; 19.3-12; Mc 10, 1-12; Lc 16, 18). Voltando à origem, Jesus ensinou a unidade e a fidelidade dos esposos, recusando o repúdio e o adultério.
Precisamente através da beleza extraordinária do amor humano – já celebrada com contornos inspirados no Cântico dos Cânticos, e do vínculo esponsal exigido e defendido por Profetas como Oseias (cf. Os 1, 2-3,3) e Malaquias (cf. Ml 2, 13-16) – Jesus confirmou a dignidade originária do amor entre o homem e a mulher.
O ensinamento da Igreja sobre a família
Também na comunidade cristã primitiva a família se manifestava como “Igreja doméstica” (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1655): nos chamados “códigos familiares” das Cartas apostólicas neotestamentárias, a grande família do mundo antigo é identificada como o lugar da solidariedade mais profunda entre esposas e maridos, entre pais e filhos, entre ricos e pobres (cf. Ef 5, 21-6, 9; Cl 3, 18-4, 1; 1 Tm 2, 8-15; Tt 2, 1-10; 1 Pd 2, 13-3, 7; cf., além disso, também a Carta a Filémon). Em particular, a Carta aos Efésios identificou no amor nupcial entre o homem e a mulher «o grande mistério», que torna presente no mundo o amor de Cristo e da Igreja (cf. Ef 5, 31-32).
Ao longo dos séculos, sobretudo na época moderna até aos nossos dias, a Igreja não fez faltar um seu ensinamento constante e crescente sobre a família e sobre o matrimónio que a fundamenta. Uma das expressões mais excelsas foi a proposta do Concílio Ecuménico Vaticano II, na Constituição pastoral Gaudium et spes que, abordando algumas problemáticas mais urgentes, dedica um capítulo inteiro à promoção da dignidade do matrimónio e da família, como sobressai na descrição do seu valor para a constituição da sociedade: «A família – na qual se congregam as diferentes gerações que reciprocamente se ajudam a alcançar uma sabedoria mais plena e a conciliar os direitos pessoais com as outras exigências da vida social – constitui assim o fundamento da sociedade» (GS 52). Particularmente intenso é o apelo a uma espiritualidade cristocêntrica dirigida aos esposos crentes: «Os próprios esposos, feitos à imagem de Deus e estabelecidos numa ordem verdadeiramente pessoal, estejam unidos em comunhão de afeto e de pensamento e com mútua santidade, de modo que, seguindo a Cristo, princípio da vida, se tornem pela fidelidade do seu amor, através das alegrias e dos sacrifícios da sua vocação, testemunhas daquele mistério de amor que Deus revelou ao mundo com a sua morte e a sua ressurreição» (GS 52).
Também os Sucessores de Pedro, depois do Concílio Vaticano II, enriqueceram mediante o seu Magistério a doutrina sobre o matrimónio e a família, de modo especial Paulo VI com a Encíclica Humanae vitae, que oferece ensinamentos específicos a níveis de princípio e de prática. Sucessivamente, o Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica Familiaris consortio, quis insistir na proposta do desígnio divino acerca da verdade originária do amor esponsal e familiar: «O “lugar” único, que torna possível esta doação segundo a sua verdade total, é o matrimónio, ou seja o pacto de amor conjugal ou escolha consciente e livre, com a qual o homem e a mulher recebem a comunidade íntima de vida e de amor, querida pelo próprio Deus (cf. Gaudium et spes, 48), que só a esta luz manifesta o seu verdadeiro significado. A instituição matrimonial não é uma ingerência indevida da sociedade ou da autoridade, nem a imposição extrínseca de uma forma, mas uma exigência interior do pacto de amor conjugal que publicamente se afirma como único e exclusivo, para que seja vivida assim a plena fidelidade ao desígnio de Deus Criador. Longe de mortificar a liberdade da pessoa, esta fidelidade põe-na em segurança em relação ao subjetivismo e relativismo, tornando-a participante da Sabedoria criadora» (FC 11).
O Catecismo da Igreja Católica reúne estes dados fundamentais: «A aliança matrimonial, pela qual um homem e uma mulher constituem entre si uma comunidade íntima de vida e de amor; foi fundada e dotada das suas leis próprias pelo Criador: pela sua natureza, ordena-se ao bem dos cônjuges, bem como à procriação e educação dos filhos. Entre os batizados, foi elevada por Cristo Senhor à dignidade de sacramento [cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Gaudium et spes, 48; Código de Direito Canónico, cân. 1055 § 1]» (CCC, n. 1660).
A doutrina exposta no Catecismo refere-se tanto aos princípios teológicos como aos comportamentos morais, abordados sob dois títulos distintos: O sacramento do matrimónio (nn. 1601-1658) e O sexto mandamento (nn. 2331-2391). Uma leitura atenta destas partes do Catecismo oferece uma compreensão atualizada da doutrina da fé, em benefício da atividade da Igreja diante dos desafios contemporâneos. A sua pastoral encontra inspiração na verdade do matrimónio visto no desígnio de Deus, que criou varão e mulher, e na plenitude dos tempos revelou em Jesus também a plenitude do amor esponsal, elevado a sacramento. O matrimónio cristão, fundamentado sobre o consenso, é dotado também de efeitos próprios, e no entanto a tarefa dos cônjuges não é subtraída ao regime do pecado (cf. Gn 3, 1-24), que pode provocar feridas profundas e até ofensas contra a própria dignidade do sacramento.
«O primeiro âmbito da cidade dos homens iluminado pela fé é a família; penso, antes de mais nada, na união estável do homem e da mulher no matrimónio. Tal união nasce do seu amor, sinal e presença do amor de Deus, nasce do reconhecimento e aceitação do bem que é a diferença sexual, em virtude da qual os cônjuges se podem unir numa só carne (cf. Gn 2, 24) e são capazes de gerar uma nova vida, manifestação da bondade do Criador, da sua sabedoria e do seu desígnio de amor. Fundados sobre este amor, homem e mulher podem prometer-se amor mútuo com um gesto que compromete a vida inteira e que lembra muitos traços da fé: prometer um amor que dure para sempre é possível quando se descobre um desígnio maior que os próprios projetos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa amada» (LF 52). «A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir um grande chamamento – a vocação ao amor – e assegura que este amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade» (LF 53).

III – QUESTIONÁRIO
As seguintes perguntas permitem às Igrejas particulares participar ativamente na preparação do Sínodo Extraordinário, que tem a finalidade de anunciar o Evangelho nos atuais desafios pastorais a respeito da família.

1. Sobre a difusão da Sagrada Escritura e do Magistério da Igreja a propósito da família
a) Qual é o conhecimento real dos ensinamentos da Bíblia, da “Gaudium et spes”, da “Familiaris consortio” e de outros documentos do Magistério pósconciliar sobre o valor da família segundo a Igreja católica? Como os nossos fiéis são formados para a vida familiar, em conformidade com o ensinamento da Igreja?
b) Onde é conhecido, o ensinamento da Igreja é aceite integralmente. Verificam-se dificuldades na hora de o pôr em prática? Se sim, quais?
c) Como o ensinamento da Igreja é difundido no contexto dos programas pastorais nos planos nacional, diocesano e paroquial? Que tipo de catequese sobre a família é promovida?
d) Em que medida – e em particular sob que aspetos – este ensinamento é realmente conhecido, aceite, rejeitado e/ou criticado nos ambientes extraeclesiais? Quais são os fatores culturais que impedem a plena aceitação do ensinamento da Igreja sobre a família?

2. Sobre o matrimónio segundo a lei natural
a) Que lugar ocupa o conceito de lei natural na cultura civil, quer nos planos institucional, educativo e académico, quer a nível popular? Que visões da antropologia estão subjacentes a este debate sobre o fundamento natural da família?
b) O conceito de lei natural em relação à união entre o homem e a mulher é geralmente aceite, enquanto tal, por parte dos batizados?
c) Como é contestada, na prática e na teoria, a lei natural sobre a união entre o homem e a mulher, em vista da formação de uma família? Como é proposta e aprofundada nos organismos civis e eclesiais?
d) Quando a celebração do matrimónio é pedida por batizados não praticantes, ou que se declaram não-crentes, como enfrentar os desafios pastorais que daí derivam?

3. A pastoral da família no contexto da evangelização
a) Quais foram as experiências que surgiram nas últimas décadas em ordem à preparação para o matrimónio? Como se procurou estimular a tarefa de evangelização dos esposos e da família? De que modo promover a consciência da família como “Igreja doméstica”?
b) Conseguiu-se propor estilos de oração em família, capazes de resistir à complexidade da vida e da cultural contemporânea?
c) Na atual situação de crise entre as gerações, como as famílias cristãs souberam realizar a própria vocação de transmissão da fé?
d) De que modo as Igrejas locais e os movimentos de espiritualidade familiar souberam criar percursos exemplares?
e) Qual é a contribuição específica que casais e famílias conseguiram oferecer, em ordem à difusão de uma visão integral do casal e da família cristã, hoje credível?
f) Que atenção pastoral a Igreja mostrou para sustentar o caminho dos casais em formação e dos casais em crise?

4. Sobre a pastoral para enfrentar algumas situações matrimoniais difíceis
a) A convivência ad experimentum é uma realidade pastoral relevante na Igreja particular? Em que percentagem se poderia calculá-la numericamente?
b) Existem uniões livres de facto, sem o reconhecimento religioso nem civil? Dispõem-se de dados estatísticos confiáveis?
c) Os separados e os divorciados recasados constituem uma realidade pastoral relevante na Igreja particular? Em que percentagem se poderia calculá-los numericamente? Como se enfrenta esta realidade, através de programas pastorais adequados?
d) Em todos estes casos: como vivem os batizados a sua irregularidade? Estão conscientes da mesma? Simplesmente manifestam indiferença? Sentem-se marginalizados e vivem com sofrimento a impossibilidade de receber os sacramentos?
e) Quais são os pedidos que as pessoas separadas e divorciadas dirigem à Igreja, a propósito dos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação? Entre as pessoas que se encontram em tais situações, quantas pedem estes sacramentos?
f) A simplificação da práxis canónica em ordem ao reconhecimento da declaração de nulidade do vínculo matrimonial poderia oferecer uma contribuição positiva real para a solução das problemáticas das pessoas interessadas? Se sim, de que forma?
g) Existe uma pastoral para ir ao encontro destes casos? Como se realiza esta atividade pastoral? Existem programas a este propósito, nos planos nacional e diocesano? Como a misericórdia de Deus é anunciada a separados e divorciados recasados e como se põe em prática a ajuda da Igreja para o seu caminho de fé?

5. Sobre as uniões de pessoas do mesmo sexo
a) Existe no vosso país uma lei civil de reconhecimento das uniões de pessoas do mesmo sexo, equiparadas de alguma forma ao matrimónio?
b) Qual é a atitude das Igrejas particulares e locais, quer diante do Estado civil promotor de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, quer perante as pessoas envolvidas neste tipo de união?
c) Que atenção pastoral é possível prestar às pessoas que escolheram viver em conformidade com este tipo de união?
d) No caso de uniões de pessoas do mesmo sexo que adotaram crianças, como é necessário comportar-se pastoralmente, em vista da transmissão da fé?

6. Sobre a educação dos filhos no contexto das situações de matrimónios irregulares
a) Qual é nestes casos a proporção aproximativa de crianças e adolescentes, em relação às crianças nascidas e educadas em famílias regularmente constituídas?
b) Com que atitude os pais se dirigem à Igreja? O que pedem? Somente os sacramentos, ou inclusive a catequese e o ensino da religião em geral?
c) Como as Igrejas particulares vão ao encontro da necessidade dos pais destas crianças, de oferecer uma educação cristã aos próprios filhos?
d) Como se realiza a prática sacramental em tais casos: a preparação, a administração do sacramento e o acompanhamento?

7. Sobre a abertura dos esposos à vida
a) Qual é o conhecimento real que os cristãos têm da doutrina da Humanae vitae a respeito da paternidade responsável? Que consciência têm da avaliação moral dos diferentes métodos de regulação dos nascimentos? Que aprofundamentos poderiam ser sugeridos a respeito desta matéria, sob o ponto de vista pastoral?
b) Esta doutrina moral é aceite? Quais são os aspetos mais problemáticos que tornam difícil a sua aceitação para a grande maioria dos casais?
c) Que métodos naturais são promovidos por parte das Igrejas particulares, para ajudar os cônjuges a pôr em prática a doutrina da Humanae vitae?
d) Qual é a experiência relativa a este tema na prática do sacramento da penitência e na participação na Eucaristia?
e) Quais são, a este propósito, os contrastes que se salientam entre a doutrina da Igreja e a educação civil?
f) Como promover uma mentalidade mais aberta à natalidade? Como favorecer o aumento dos nascimentos?

8. Sobre a relação entre a família e a pessoa
a) Jesus Cristo revela o mistério e a vocação do homem: a família é um lugar privilegiado para que isto aconteça?
b) Que situações críticas da família no mundo contemporâneo podem tornar-se um obstáculo para o encontro da pessoa com Cristo?
c) Em que medida as crises de fé, pelas quais as pessoas podem atravessar, incidem sobre a vida familiar?

9. Outros desafios e propostas
Existem outros desafios e propostas a respeito dos temas abordados neste questionário, sentidos como urgentes ou úteis por parte dos destinatários?

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

PRINCÍPIOS DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA E O SEU CONTRIBUTO PARA A CRISE

CONVITE

Temos a honra de convidar V. Exa para uma conferência que terá lugar no Auditório da Casa Diocesana (Seminário de Vila Real), no dia 25 de Outubro de 2013 pelas 21h00, com o título: PRINCÍPIOS DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA E O SEU CONTRIBUTO PARA A CRISE
Pelo Professor Eugénio da Fonseca,
Presidente da Caritas Portuguesa


CARITAS DIOCESANA DE VILA REAL

CENTRO CATÓLICO DE CULTURA 
DA DIOCESE DE VILA REAL


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

CURRICULUM VITAE DO DR. ANTÓNIO FRANCISCO CASEIRO MARQUES


O Dr. António Francisco Caseiro Marques nasceu em Carapito (Aguiar da Beira), Distrito da Guarda e Diocese de Viseu, em 29/06/51. É casado e há muitos anos fixou residência em Vila Real. Depois de cumprido o serviço militar como Oficial da Classe de Fuzileiros da Reserva Naval, na Armada, entre 1972 e 1983, tendo atingido o posto de 1º Tenente, passou a exercer a profissão de Advogado, em Lisboa de 1977 a 1984, e em Vila Real desde 1984.
Com 62 anos de idade, o Dr. Caseiro Marques vive intensamente a sua vida de homem cristão, tomando iniciativas e participando activamente na vida da Igreja e do mundo.
Tem sido variadíssima a sua actividade nos vários âmbitos da vida eclesial, social e política: dirigente da Acção Católica Rural a nível diocesano e nacional, Membro do Conselho Diocesano de Pastoral, Deputado nas Assembleias Municipais de Vila Real e Aguiar da Beira, Vereador na Câmara Municipal de Vila Real, Dirigente Associativo nas áreas do desporto, da cultura e do lazer, marcando também presença activa e interventiva nas Associações de Pais das escolas do concelho de Vila Real. No jornalismo, tem desenvolvido também uma acção notável,como fundador do jornal "CARUSPINUS" que se publica em Carapito - Aguiar da Beira, fundador e Director do Jornal "O GINÁSIO" que se publicou em Vila Real, colaborador permanente dos jornais "A VOZ DE TRÁS-OS-MONTES", "VOZ DE LAMEGO" e "NOTÍCIAS DE CHAVES", da revista "MUNDO RURAL", do jornal "CARUSPINUS", “NEGÓCIOS DE VALPAÇOS” e “O BARROSO - A TERRA E AS GENTES” e “OS PAIS E A ESCOLA”. Foi ainda fundador e é Director do Semanário “NOTÍCIAS DE VILA REAL” desde Setembro/98.

OBRAS PUBLICADAS:
a) Crónicas com Canela, Sal e Pimenta - 1996
b) Maldito Minério - 1999 - 2ª edição em 2000
c) Kosovo – A Estratégia Errática de Portugal – Reportagem - 2000
d) Assim se Moldava o Barro – 2003
e) No Laró - 2004
f) História das Freguesias do Concelho de Vila Real (Texto de apresentação) - 2007

É a partir desta riquíssima experiência de vida cristã que no próximo dia 11 de Outubro o Dr. Caseiro Marques nos falará sobre o Apostolado dos Leigos no Decreto Conciliar Apostolicam Actuositatem.

Todos são convidados para esta conferência, que terá início às 21h30, no Auditório da Casa Diocesana (Seminário de Vila Real).

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

ABERTURA DO ANO LECTIVO

O Centro Católico de Cultura da Diocese de Vila Real informa todos os interessados que vai iniciar o novo ano lectivo na próxima sexta-feira, dia 11 de Outubro de 2013. O acto inaugural começará às 21h30, decorrerá no Auditório da Casa Diocesana e constará de uma conferência proferida pelo Dr. António Francisco Caseiro Marques, que terá como título: O Apostolado dos Leigos à luz do Decreto Conciliar Apostolicam Actuositatem. Recomenda-se aos participantes que tragam consigo os textos do Concílio Vaticano II.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

EDEF - ANO LECTIVO 2013/2014

CENTRO CATÓLICO DE CULTURA DA DIOCESE DE VILA REAL
PROGRAMA PARA 2013-2014

Início do próximo ano lectivo: 11 de Outubro.

Funcionarão dois centros: Vila Real e Chaves.

Aulas às sextas-feiras, das 21h00 às 23h00, em Vila Real; às terças-feiras, das 21h00 às 23h00, em Chaves.

A sessão inaugural do novo ano lectivo será no dia 11 de Outubro, com início às 21h00. Depois de um momento artístico-musical, haverá uma conferência proferida pelo sr. Dr. António Francisco Caseiro Marques e que terá como título: O Apostolado dos Leigos à luz do Decreto Conciliar Apostolicam Actuositatem.


Programa do terceiro ano

1.ºtrimestre (18/10 – 13/12/2013), 9 sessões

21h00-23h00: Curso de Doutrina Social da Igreja, orientado pela Cáritas Diocesana de Vila Real

2.ºtrimestre (10/01 – 14/03/2014), 10 sessões

21h00-22h00: Formação bíblica de catequistas, orientado pelo Secretariado Diocesano de Educação Cristã
22h00-23h00: Formação de animadores de grupos de reflexão e oração bíblica, orientado pelo Serviço Diocesano de Animação Bíblica

3.ºtrimestre (02/05 – 27/06/2013), 8 sessões

21h00-23h00: Curso Prático de Liturgia, orientado pelo Secretariado Diocesano de Liturgia



Ficha de inscrição

Nome………………………………………………………………………………

Data de nascimento ........../........../............... Habilitações literárias………………

Contactos: Telefone ou telemóvel......................... E-mail………………………..

Paróquia…………………………………………………………………………...

Arciprestado……………………………………………………………………….

Assinatura do aluno……………………………………………………………….

Assinatura do Pároco……………………………………………………………...

Entregar, junto com o respectivo pagamento, no Seminário de Vila Real ou na Paróquia de Santa Maria Maior de Chaves. A quem ainda não o fez, pede-se também a entrega de uma fotografia.
Inscrição no curso completo: € 35,00 (por ano).

Inscrição por disciplina: € 10,00.

SERVIÇO DIOCESANO DE ANIMAÇÃO BÍBLICA - VILA REAL


O Centro Católico de Cultura da Diocese de Vila Real disponibiliza a partir deste ano pastoral de 2013/2014 o Serviço Diocesano de Animação Bíblica.
Segundo o espírito da Verbum Domini, que vem na linha da Dei Verbum e reflecte as preocupações e propostas do Sínodo dos Bispos, não interessa ter um serviço de pastoral bíblica em justaposição com outras formas da pastoral, «mas como animação bíblica da pastoral inteira» (n.º 73). Assim, o Serviço Diocesano de Animação Bíblica propõe-se dar uma atenção especial aos seguintes aspectos:
- Fornecer textos de apoio sempre que forem necessários para qualquer actividade pastoral e colaborar em encontros ou acções organizadas pelos Secretariados ou Movimentos existentes na Diocese.
- Utilizar os meios que as novas tecnologias nos fornecem, elaborando power points, pequenos vídeos e outros trabalhos sobre temas bíblicos e criando por exemplo um blogue de reflexão bíblica ou uma página no facebook, que ajude a saborear a Palavra de Deus levando as pessoas ao encontro pessoal com Cristo e em que a Sagrada Escritura seja apreciada em todas as suas dimensões.
- Por outro lado, continuamos convencidos de que enquanto não houver nas Paróquias algumas pessoas com uma formação bíblica mínima, a evangelização pouco ou nada avançará. Não se podem sobrecarregar mais os Párocos com a tarefa de animar grupos bíblicos, porque eles até podem começar, mas depois os vários afazeres acabam por fazê-los interromper esse trabalho, que depois cai no esquecimento. Assim, poderemos promover acções de formação bíblica para catequistas e outros agentes de pastoral e também começar a preparar animadores de grupos de reflexão e oração bíblica (lectio divina) nas Paróquias.
- Para ver a melhor maneira de levar por diante estes projectos, estamos dispostos a encontrar-nos com os Padres de cada Arciprestado e falar com eles sobre este assunto. Estes encontros poderão servir também para conhecer e avaliar tudo aquilo que já se tem feito em matéria de animação bíblica da pastoral, pois temos consciência de que não se vai partir do zero, mas vai-se tentar aproveitar tudo o que já foi feito, percorrendo novos caminhos de evangelização.

- Estamos abertos a outras sugestões do nosso Bispo, dos colegas sacerdotes e dos leigos sobre este serviço pastoral.

terça-feira, 14 de maio de 2013

SOBRE O “MEMORIAL DO CONVENTO”


Ao acompanhar os estudos dos meus filhos, dei particular atenção às obras de literatura portuguesa de leitura obrigatória para os alunos do secundário, onde se inclui, com grande relevo, o Memorial do Convento de José Saramago.
Está fora de questão o mérito literário de José Saramago, que lhe valeu o Prémio Nobel e que faz com que já me tenha deparado com traduções das suas obras em escaparates de livrarias de vários países.
Mas não posso deixar de sublinhar a forma repetitiva, insistente, quase obsessiva, como nessa obra está presente a crítica à religião católica. Esta é associada à intolerância inquisitorial, à superstição ridícula, à repressão da sexualidade (também esta uma obsessão), ao luxo e ao fausto em contraste com a pobreza, mas também ao dolorismo masoquista sob a capa da penitência. A cada passo, de modo que se vai tornando cada vez mais previsível, surgem as provocações ofensivas e blasfemas, por vezes a roçar o mau gosto.
Poder-se-ia pensar que o alvo dessa crítica não é a cristianismo na sua essência, ou o catolicismo na sua essência, mas apenas uma sua expressão histórica, a que deu origem à Inquisição, ou a do período barroco, que sempre poderiam ser criticadas, até pelo seu contraste com a pureza da mensagem cristã. Não podemos esquecer os sucessivos pedidos de perdão do Papa João Paulo II pelos erros históricos dos “filhos da Igreja”, onde se inclui, entre outros, o uso da violência (através da Inquisição) ao serviço da pretensa defesa da verdade da fé (ver, por exemplo, o livro de Luigi Accattoli, Quando o Papa Pede Perdão, na sua tradução portuguesa, Paulinas, 1997). Mas as críticas de Saramago vão mais a fundo, atingem a própria essência da mensagem, as suas raízes bíblicas e evangélicas, como se comprova pela leitura de outros dos seus livros mais famosos, O Evangelho segundo Jesus Cristo e Caim.    
A esta visão (desfigurada) da Igreja Católica deveria ser contraposta outra face: a dos seus santos e a do papel que desempenhou historicamente (e desempenha), na defesa da dignidade da pessoa, dos pobres e doentes, da cultura e da arte.
A crítica cerrada do Memorial do Convento ao catolicismo denota, além do mais, incompreensão e desprezo pela cultura portuguesa, a erudita e a popular.
Também seria oportuno contrapor a essa crítica o que diz Bento XVI na encíclica Deus Caritas Est. Respondendo ao filósofo Nietzche, que acusa o cristianismo de, com os seus mandamentos e proibições, tornar amargas as coisas belas da vida, o agora Papa emérito afirma que, pelo contrário, nessas coisas podemos encontrar uma alegria pensada pelo Criador, a qual nos faz pressentir o divino, porque Deus não nos tira nada do que é humanamente bom, antes o quer purificar e conduzir à plenitude.
O que me leva a escrever estas observações não é a intenção de reacender as polémicas que envolveram a obra de Saramago, nem quero fazer a seu respeito um juízo de intenções, agora que já não está connosco e quando espero que se tenha aberto à infinita misericórdia de Deus.
O que me preocupa é que, perante a tristemente generalizada falta de cultura religiosa dos nossos jovens (muito maior do que a de outras gerações), estes só venham a conhecer a Igreja católica (e mesmo o cristianismo) através da visão distorcida que deles é dada pelo Memorial do Convento.
Longe de mim advogar a censura à obra de Saramago. Mas a mesma liberdade de expressão que lhe reconheço deve servir para apontar os limites dessa obra. Nem o seu alcance internacional, nem mesmo o prémio Nobel, lhe conferem qualquer aura de intocabilidade. A sensação que tive quando reli agora o Memorial do Convento é certamente a que tiveram muitos dos professores e estudantes que o lêem por obrigação. Não devem ter receio de dizer em voz alta e publicamente o que pensam. Nem devemos aceitar passivamente que seja esta obra a formar as mentes dos nossos jovens sobre a Igreja Católica.                                                                                     


Pedro Vaz Patto, in A Voz da Verdade

CRISTIANISMO E CULTURA NO CONTEXTO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO


O Centro Católico de Cultura da Diocese de Vila Real vai acolher, no seu Auditório, no dia 20 de Maio, a partir das 10h30, uma acção de formação para sacerdotes e leigos.  Esta acção constará de uma conferência a cargo do Doutor Arnaldo de Pinho, que terá por título: “Cristianismo e Cultura no contexto da Nova Evangelização”
A acção destina-se aos sacerdotes da Diocese e também aos leigos, de forma especial os que frequentaram o Curso de Ciências Religiosas e os que actualmente frequentam a Escola Diocesana de Educação da Fé.
As pessoas que quiserem almoçar no Seminário devem fazer a sua inscrição na portaria até ao dia 18 de Maio.

quinta-feira, 28 de março de 2013

CREIO NO ESPÍRITO SANTO


Passaram os quarenta dias de caminhada quaresmal. Entramos agora no tempo da Páscoa, que não se resume ao Tríduo Pascal, mas nos leva, com Cristo ressuscitado, até ao Pentecostes, à vinda do Espírito Santo.
Depois de expressar a fé da Igreja em Deus Pai Criador e no Filho Redentor, o Símbolo dos Apóstolos afirma: “Creio no Espírito Santo”; e o Símbolo de Niceia-Constantinopla acrescenta: “…Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos Profetas”. Esta é a síntese da fé da Igreja relativamente àquele que habitualmente é chamado “a terceira Pessoa da Santíssima Trindade”.
Quem é o Espírito Santo? Apresentamos uma síntese da forma como Ele nos aparece na Sagrada Escritura.
No Antigo Testamento
a) Os termos ruah e pneuma, que costumamos traduzir por espírito, são nomes comuns, que designam o vento, a respiração, o hálito de vida existente nas criaturas. Estas são forças misteriosas e inefáveis. O vento pode ser violento, mas também é indispensável para que tudo se mova e a sua brisa suave não deixa de ser agradável. A respiração é a força que sustem e anima o corpo. Ambos vêm de Deus, e o sopro de vida que Iahweh insuflou em Adão (Gn. 2, 7: “Então Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente”) volta a Ele com a morte do homem e da mulher.
No homem, o espírito não é a mesma coisa que a alma, pois a concepção de alma imortal distinta do corpo não existe na Bíblia Hebraica. Existe sim o conceito de homem como uma unidade inseparável de corpo e espírito. No entanto, o espírito opõe-se à carne, se entendemos esta como a parte corruptível e mortal do homem, enquanto o alento vital lhe é dado por Deus, até à morte.
b) Usa-se também a expressão espírito de Deus para falar da acçãoforça e dinamismo divinos. O espírito de Iahweh revela-se sobretudo como uma força divina que se manifesta na criação (Gn. 1, 2: “...um vento de Deus pairava sobre as águas”) e nas pessoas humanas, transformando-as e fazendo-as capazes de grandes gestos. Estes gestos destinam-se a confirmar o povo na sua vocação e a ajudá-lo a ser fiel ao seu Deus.
O espírito de Iahweh inspira os profetas, e isto é reconhecido sobretudo depois do exílio. É também ele o espírito carismático que suscita os juizes e os reis de Israel, e é nele que é ungido o servo de Iahweh (cf. Is. 61, 1: “O espírito do Senhor Iahweh está sobre mim, porque Iahweh me ungiu”). Com efeito, o espírito abre aos profetas a Palavra de Deus e transforma-os em testemunhas, e Iahweh coloca o seu espírito sobre o seu servo (cf. Is. 42, 1).
c) Em algumas passagens do A. T. aparece também a expressão Santo espírito (por ex. no Sl. 51, 13: “...não me rejeites para longe de tua face, não retires de mim teu santo espírito) ou Espírito santo (por ex. em Is. 63, 10), mas o Espírito Santo não é ainda apresentado como uma pessoa distinta do Pai e do Filho. É simplesmente o Espírito de Deus, que é santo e se comunica à humanidade.
No Novo Testamento, usa-se o termo grego pneuma. No N. T. há alguma influência dos escritos do judaísmo extra-bíblico. Fala-se do Espírito de Deus (ou do Espírito Santo) em todos os evangelhos e em outros escritos neotestamentários, mas a sua explicitação como pessoa dá-se sobretudo em S. Lucas e nos Actos dos Apóstolos, em S. Paulo e em S. João.
a) Em primeiro lugar, o Espírito de Deus manifesta-se em Jesus: na sua concepção (cf. Mt. 1, 18.20: 18“Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo” [...]20“José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo”; Lc. 1, 35: “O anjo lhe respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra”), no seu baptismo (Mt. 3, 13-17; Mc. 1, 9-11; Lc. 3, 21-22; Jo. 1, 29-34: 32“E João deu testemunho, dizendo: ‘Vi o Espírito descer, como uma pomba, vindo do céu, e permanecer sobre ele”. 33“Eu não o conhecia, mas aquele que me enviou para baptizar com água, disse-me: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer é o que baptiza com o Espírito Santo’”), na sua ida para o deserto (Mt. 4, 1; Mc. 1, 12; Lc. 4, 1: “Jesus, pleno do Espírito Santo, voltou do Jordão; era conduzido pelo Espírito através do deserto...”), nos momentos de intimidade com o Pai através da oração (Lc.10, 21: “Naquele momento, ele exultou de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: ‘Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste essas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos’”), no seu ministério público (por ex. quando expulsa os demónios ou quando opera os seus milagres) e na sua morte e ressurreição: Jesus, entregando o seu espírito (Lc. 23, 46; Jo. 19, 30), prepara a efusão do Espírito Santo sobre os seus. Na entrega do espírito de Jesus ao Pai, realiza-se a glorificação da Santíssima Trindade.
b) Antes de partir deste mundo, Jesus promete o envio do Espírito Santo, que virá como consolador, defensor e intercessor (Jo. 14, 16: “...e ele vos dará outro Paráclito...”; 16, 7: “...se eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se eu for, enviá-lo-ei a vós.”), como Espírito da Verdade (Jo. 14, 17; 16, 13. “...ele vos conduzirá à verdade plena...”), como aquele que tudo ensina (Jo. 14, 26: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse”), que irá desmascarar a culpabilidade do mundo (cf. Jo. 16, 8-11) e que glorificará o próprio Jesus  Cristo (Jo. 16, 14: “Ele me glorificará porque receberá do que é meu e vos anunciará”).
c) Depois da sua ressurreição, Jesus concedeu o Espírito Santo aos Apóstolos, para que pudessem cumprir a sua missão: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo. 20, 22-23). Mandou-os também baptizar os novos discípulos “...em nome do Pai, do Filho e dos Espírito Santo” (Mt. 28, 19).
d) A grande manifestação do Espírito Santo à Igreja nascente dá-se porém no Pentecostes. Segundo o texto de Act. 2, 4, “...todos ficaram repletos do Espírito Santo...”. Deu-se aqui o cumprimento da promessa de Jesus Cristo, de que não deixaria órfãos os seus discípulos. O Espírito Santo é o defensor e consolador prometido, e por Ele os discípulos darão testemunho de Cristo. É pela sua acção que a Igreja se dá a conhecer ao mundo e se liberta das peias que o judaísmo insiste em lhe colocar. Os Apóstolos perdem o medo de testemunhar a sua fé em Jesus Cristo ressuscitado e lançam-se na missão de anunciar o Evangelho ao mundo, porque o Espírito Santo está com eles. É também Ele que guia a Igreja e está presente nas suas grandes decisões. Por isso se diz que o Espírito Santo é a alma da Igreja.
e) A cada cristão Ele concede os dons ou carismas necessários, mas do mesmo modo que garante a comunhão na Santíssima Trindade, também congrega a Igreja na unidade e santifica-a como Corpo de Cristo. Por isso São Paulo pode saudar os cristãos de Corinto com a fórmula trinitária que nós hoje continuamos a usar: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus [Pai]e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!” (2Cor. 13, 13). Esta é a condição indispensável para sermos Igreja e actuarmos como Igreja.
CONCLUSÕES
Depois desta exposição sobre a forma como a Sagrada Escritura nos fala do Espírito Santo, podemos sintetizar, em jeito de conclusão:
1. O Espírito Santo vai-se manifestando discretamente, até se revelar em força nos momentos mais decisivos da história da salvação. No A. T., «o Espírito Santo, como pessoa, está encoberto», como diz o Papa João Paulo II na sua Encíclica “Dominum et Vivificantem” (cf. n.º 15). Irrompe no N. T., depois de o Filho consumar a sua obra de salvação. De facto, como podemos verificar, no A. T. predomina a figura do Pai; no N. T. predomina a figura do Filho e ao mesmo tempo abre-se o caminho à acção do Espírito Santo na Igreja. Assim se torna explícita a existência da Santíssima Trindade, presente desde o princípio na obra da criação.
2. O Espírito Santo é uma pessoa, mas para se falar dele usa-se a linguagem dos símbolos, que evidenciam aquilo que Ele faz. Eis alguns desses símbolos:
Vento, sinal da força de Deus: o vento destrói obstáculos que pareciam intransponíveis (Act. 2, 2) e é símbolo da força, acção e dinamismo de Deus, que se manifestam logo na criação (cf. Gn. 1, 2) e depois actuam nos profetas (Ez. 1, 4) e nos Apóstolos (Act. 2, 2).
Hálito, alma (alento vital) do homem: Gn. 2, 7.
Água: os rios de água viva de que fala Jesus em Jo. 7, 38 são o símbolo da vida nova no Espírito Santo: “Ele falava do Espírito que deviam receber aqueles que tinham crido nele; pois não havia ainda Espírito, porque Jesus ainda não fora glorificado” (Jo. 7, 39).
A pomba é o sinal da simplicidade, da liberdade e da paz, do calor e da   vida, e do mistério de Deus. Conforme a pomba que pousa na arca de Noé (Gn. 8, 6-12) anuncia a nova humanidade, também aquela que aparece no Baptismo de Jesus (Mt. 3, 16) anuncia que Ele é o iniciador da nova criação, o que baptiza no Espírito Santo.
fogo significa, na Bíblia, a presença amorosa e activa de Deus no meio do seu povo. É sinal de insatisfação, de inquietação, de purificação (Is. 6, 6-7;   Ez. 1, 4) e entrega à missão, sobretudo ao ministério da Palavra (cf. Act. 4, 8. 20: a ânsia de proclamar a Palavra é como um fogo que queima). Por isso em Act. 2, 3 o Espírito Santo desce em forma de línguas de fogo.
3. A acção do Espírito Santo não se opõe à acção de Cristo, mas vem depois dele e graças a ele «para continuar no mundo, mediante a Igreja, a obra da Boa Nova da salvação» (cf. Dominum et Vivificantem, n.º 3). Assim, «o Espírito Santo fará com que perdure sempre na Igreja a mesma verdade, que os Apóstolos ouviram do seu Mestre» (cf. Dominum et Vivificantem, n.º4).
4. A sua acção concretiza-se em favor de cada pessoa individual, e em favor da Igreja. O Espírito Santo e as suas inspirações não são propriedade privada de ninguém, mas é em confronto com a Igreja que nós devemos avaliar os carismas que o Espírito vai suscitando em cada pessoa.
5. O Espírito Santo é o Espírito da Verdade. É no seu testemunho que «o testemunho humano dos Apóstolos encontrará o seu mais forte sustentáculo» (cf. Dominum et Vivificantem, n.º 5). Assim o Espírito Santo não ensina nada diferente do que Jesus Cristo ensinou, mas pelo contrário, assegura de modo duradouro a transmissão e irradiação da Boa Nova revelada por Jesus de Nazaré (cf. Dominum et Vivificantem, n.º 7).