O Papa Francisco já por
várias vezes usou a expressão “colonização ideológica” para criticar a
tentativa de imposição da “ideologia do género”, designadamente no âmbito do
ensino, encarado como um meio eficaz de doutrinação e transformação da
mentalidade corrente. Pretende-se que as crianças, desde a mais tenra idade, se
habituem à ideia de que o género será
uma escolha independente do sexo de nascença
e de que não haverá modelos de família de referência, como não serão modelos de
referência a paternidade e a maternidade.
Parece-me adequada a expressão “colonização ideológica”, por dois motivos.
Por
um lado, porque estamos perante uma notória tentativa de sobreposição da
ideologia à realidade, confirmando aquilo que já se disse a este respeito: se
os factos não confirmam a ideologia, «tanto pior para os factos».
Assim,
em nome da ideologia, pretende-se negar, ou tornar irrelevante, a biologia, como
se a pessoa não fosse uma unidade que a integra. Advoga-se a licitude das cirurgias
de mudanças de sexo, e até do bloqueio da evolução pubertária em crianças e
jovens pretensamente “transgénero”, tudo com base numa perceção subjetiva
contrária aos dados objetivos. Especialistas consideram estas práticas uma «perigosa
experiência de engenharia social», «baseada na ideologia e não na ciência»,
salientando que a grande maioria de casos de “disforia de género” em menores
são superados, sendo que o bloqueio da evolução pubertária acarreta graves e
irreversíveis danos. Também são muitos os casos de pessoas que se arrependem de
cirurgias de “mudança de sexo” (ver www.sexchangeregret.com),
mudança que acaba por ser ilusória, dada a dimensão genética do sexo, que é
imutável. O psiquiatra Paul Mc Hugh afirma que essas práticas mascaram e
exacerbam o problema da “disforia de género”, sem o resolver, que delas
resultam apenas homens efeminados e mulheres masculinizadas, e não quaisquer verdadeiras
mudanças de sexo.
Também
é uma negação da realidade a regra (que se pretende impor) de frequência de
casas de banho, balneários e dormitórios segundo o “género” e não segundo o
sexo biológico: afinal, são só as diferenças biológicas, e não outras, as que
justificam a separação.
Por
outro lado, deve falar-se em “colonização” porque não estamos perante uma
espontânea transformação de mentalidades, pretende-se que esta seja imposta
coercivamente.
Leis como
as que vigoram em várias comunidades autónomas espanholas impõem a “ideologia
de género” até em escolas não estatais. Invocando essa legislação contra a “homofobia” e “transfobia”, já têm
sido apresentadas queixas criminais contra bispos (como os de Pamplona e de
Valência) que expõem a doutrina da Igreja contrária a tal ideologia (sem
ofender as pessoas). Pelos mesmos motivos, foi recentemente condenado em multa
o diretor de um colégio espanhol.
Essas
leis proibem também, sob pena de severas sanções, qualquer terapia de mudança
de orientação sexual não desejada ou de mudança de identidade de género não
desejada (mesmo que estas possam revelar-se eficazes). Mas já admitem, sem
restrições, cirurgias de “mudança de sexo”. Mais, nos Estados Unidos, o Gender Identity Mandate obsta à
invocação da objeção de consciência por parte de médicos que se recusem a
praticar tais cirurgias (questão que já chegou aos tribunais, tendo um tribunal
do Texas reconhecido esse direito dos médicos, numa decisão recente).
As
leis que, nos Estados Unidos, impõem a frequência de casas de banho, balneários
e dormitórios segundo o “género”, e não segundo o sexo biológico, também se
aplicam a escolas não estatais. Há quem tema pela segurança e privacidade, sua
e dos seus filhos. Mas também há grandes empresas e organizações, assim como
artistas famosos, que boicotam Estados que não seguem tal política Uma
controvérsia (a WC War) que nos
parece caricata, mas que também já invadiu os tribunais norte-americanos.
Em
vários países já foram condenadas várias pessoas (pasteleiros, floristas ou
propretários de restaurantes) que, por razões de consciência, se recusam a
colaborar em casamentos entre pessoas do
mesmo sexo (sem discriminar pessoas homossexuais noutro tipo de serviços). Há
propostas de leis de Estados norte-americanos que pretendem garantir esse
direito, em nome da liberdade religiosa e de consciência. Mas tais Estados
também enfrentam ameaças de boicote por parte de grandes empresas, o que leva
vários políticos a abandonar tais propostas.
Por
tudo isto, não será exagero falar em “colonização ideológica”.
Pedro Vaz Patto
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