A Páscoa da ressurreição
e da vida bem-aventurada, com Cristo, em Deus.
Caros Diocesanos, Irmão e Irmãs, em Cristo. Feliz Páscoa! Jesus
Cristo, o Filho de Deus feito homem ressuscitou, venceu e salvou-nos do pecado
e da morte. Ele é a fonte da vida eterna e bem-aventurada. “A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se pedra angular. Foi obra
do Senhor, é um prodígio aos nossos olhos. Este é o dia da vitória que o Senhor fez, exultemos e alegremos nele!
Aleluia! Aleluia! “ (Sl. 117 (118), 22-24).
A Páscoa celebra a nova criação humana, com Cristo, em Deus. Os
Judeus evocam a passagem de Jahvé, que
salva os Israelitas, no Egipto. Os cristãos celebram o Mistério Pascal de
Cristo, a nova vida dada aos que crêem na esperança e bem-aventurança de Deus,
que ressuscitou e entronizou a humanidade de Jesus, no seio da Trindade e nos
dá a alegria, a novidade de vida, a esperança e a síntese e fonte do mistério: a
vida humana entronizada, em Deus, o homem iluminado e salvo, por Cristo, que
morreu e ressuscitou por nós, e foi assumido, como Filho, na glória de Deus.
1.- Jesus, o Filho Unigénito, nascido do Pai, antes de todos
os séculos, fez-se homem, desceu dos céus e veio do Pai, para, pelo mistério da
Sua Páscoa, voltar ao Pai, donde viera, levando consigo a humanidade, que
assumiu, no seio da Virgem Santíssima. O Quarto Evangelho fala muito da vinda e
regresso do Filho ao Pai, sobretudo, na secção do discurso de despedida ou
testamento espiritual (capítulos 13 a 17), que abre, com a acção simbólica do
Lava-Pés, e, com solenidade inaudita, fala do regresso de Jesus ao Pai e do
amor de Jesus aos seus, até ao extremo: “antes
da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegava a hora de passar deste mundo ao
Pai, depois de ter amado os seus que estavam no mundo amou-os até ao extremo”
(Jo 13,1).
2. - A vida terrena de Jesus é vinda do Pai e regresso ao
Pai. A vida de Jesus é Páscoa ou passagem, pelo mundo, vindo de Deus, para
voltar a Deus, na Sua humanidade. A vinda da Encarnação Redentora culmina na
entronização da humanidade assumida em Deus, no Tríduo Pascal, em que se
celebra e realiza o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição gloriosa de Jesus,
que após a Sua Encarnação e Morte entrou na glória de Deus Pai. A ressurreição
de Cristo é a obra de Deus, por excelência, que ressuscita Jesus, o Filho,
feito carne, elevado, na Sua humanidade, à glória e bem-aventurança de Deus. Pela
ressurreição, Jesus triunfou da morte e dá-nos a vida eterna e gloriosa, com a promessa
da nossa própria ressurreição, com Cristo, em Deus.
3.- A Páscoa Israelita era festa nómada, de família, muito
antiga e vivida e celebrada, de noite, na lua cheia do equinóxio da primavera,
no dia 14 do antigo mês de abib, ou
das espigas, chamado nisan, após o
exílio. Os pastores nómadas ofereciam a Deus um cordeiro ou cabrito, nascido nesse
ano (Ex. 12,3-6). Era oferecido e comido à pressa, de passagem (Ex.12,8-12),
sem lhe quebrar os ossos (Ex.12,46; Num. 9,12), utilizando o sangue do cordeiro
para marcar as casas dos Israelitas, preservando-os do castigo infligido aos
Egípcios. A origem da festa nómada e doméstica encontra eco no sacrifício que
os Israelitas queriam oferecer a Deus, no deserto, pedindo ao Faraó para os
deixar sair do Egipto (Ex. 3,18; 5, 1 ss). A Páscoa era festa nómada e pastoril
da Primavera. Ela encontrou expressão histórica, concreta e visível, como
experiência de libertação, no evento do Êxodo, na Páscoa de Israel, isto é, no
Deus único, santo, vivo e omnipotente, que fez maravilhas, em prol do Povo.
Entre as intervenções salvíficas de Deus, conta-se a décima praga da morte dos
primogénitos (Ex 11,5; 12, 12.29s), evento a que se ligou a oferta dos primogénitos
do rebanho e o resgate dos recém-nascidos.
A Páscoa, após a libertação do Egipto, é memorial do Êxodo, o
evento central do Povo eleito e recorda Deus, que livrou Israel e o poupou dos
males, vindos sobre os Egípcios. A festa da Páscoa, a peregrinação a Jerusalém
e as celebrações do templo, em época tardia, suplantaram a festa doméstica,
nómada e pastoril da primavera.
4. – O Povo sedentarizou-se. A festa dos Ázimos uniu-se à
festa da Páscoa e à imolação do cordeiro (Ex 12,15-20). Jesus, o Cordeiro de
Deus, que se ofereceu por nós, celebra a Páscoa, com os discípulos, e institui
a Eucaristia, segundo os Sinópticos e Paulo. O Quarto Evangelho fala do
Cordeiro Pascal, imolado, no Templo, na hora em que Cristo morreu, como vítima
pascal e Cordeiro imolado (Jo.18,28; 19, 14.31.42), que tira os pecados do
mundo, como o Baptista O indica a Israel (Jo.1, 29.36) e Paulo e a teologia
cristã no-lo apresentam, como: “Cristo
nossa Páscoa que foi imolado”.
O Mistério Pascal revela-se, na morte e no encontro, com o
Senhor glorioso, que vem para plasmar, fazer frutificar e alegrar os crentes,
no Ressuscitado. A Páscoa de Jesus prepara a nossa Páscoa celeste, o encontro
definitivo, com Deus e Jesus Ressuscitado. Ele é Cordeiro imolado e vitorioso
que o Apocalipse mostra de pé trespassado. É Jesus ressuscitado, que, com os
olhos da fé, vemos e, com a boca, cremos e confessamos, como Deus e Senhor,
segundo S. João: “contemplarão e
reconhecerão o trespassado”.
5. – A vida de Jesus e os eventos da paixão e morte,
credenciados, por Deus, ao intervir e ressuscitar o Seu Filho, mudaram o mundo
e a mente dos discípulos e prepararam as testemunhas oculares dos
acontecimentos pascais, para a missão do anúncio da Boa Nova da salvação. Tudo assenta
no mistério da Vinda do Filho de Deus, na Sua morte redentora, entregue, por
amor, que Deus sancionou ao ressuscitá-lo, declarando-o inocente e justo e dando-lhe
o triunfo e a vida eterna e gloriosa, entronizando a Sua humanidade do homem
Jesus Ressuscitado à direita de Deus, como Filho glorioso e causa de salvação
dos que n’Ele crêem e d’Ele dão desassombrado testemunho.
Foi a Ressurreição de Jesus imolado, que se fez ver aos
discípulos, nas aparições após a Páscoa, e a vinda do Espírito, dom do Ressuscitado,
que convenceram e moveram os corações dos discípulos a testemunhar, baptizar e
fazer discípulos. Não há Igreja, nem missão, sem acompanhamento do Ressuscitado
e sem o Espírito, motor, princípio de vida e alma da Igreja. A Igreja é obra
das missões divinas do Filho e do Espírito.
6.- A nova evangelização, pela transmissão eclesial da fé,
exige o êxodo, a saída de nós e do lugar, onde estamos, para ir testemunhar,
dar frutos e conquistar os corações a aderirem à Boa Nova da Vinda e
Ressurreição do Filho de Deus. Este anúncio e êxodo para as periferias faz-se, de
mãos dadas, como Povo de Deus, em união, com Jesus Cristo e uns com os outros,
movidos pela força do Espírito Santo.
O Ano Pastoral centrou-nos no anúncio e procura de discípulos
do Ressuscitado. O próximo Ano Pastoral será consagrado à Família natural e
doméstica sem esquecer que a Igreja é a família alargada dos Filhos de Deus,
chamada a viver a fé em Cristo morto e ressuscitado, no seio de pequenas
comunidades de reflexão e de testemunho cristão, abertas e integradas na comunhão
da igreja, no Povo de Deus, que crê, espera, ama e testemunha Aquele, que por
nós deu a vida e venceu o pecado e a morte. A Ele seja dada glória e louvor
perene. Aleluia! Aleluia!
Com afecto e votos de feliz e santa Páscoa, a todos saúda o
bispo amigo, no Senhor.
+ Amândio José Tomás, bispo de Vila Real.