quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

MENSAGEM DO SR. BISPO DE VILA REAL PARA A QUARESMA DE 2014

Quaresma e Páscoa, conversão e ajuda aos pobres

Caros Diocesanos, boa Páscoa e Quaresma de oração, renúncia e partilha!

A Páscoa é passagem, mudança de vida do Ressuscitado, que se fez homem para nos salvar. É o mistério da morte e ressurreição ou retorno do Filho ao Pai, donde veio, para nos dar a vida de Deus. Evitai o mal, fazei o bem, para serdes felizes, pois “a glória de Deus é o homem vivo e o desejo do homem é ver a Deus”, diz S. Ireneu. O Ressuscitado venceu o pecado e a morte para nos dar a eterna alegria da vida divina, gloriosa e autêntica.

1.- O amor a Deus e ao próximo faz feliz quem vive e aposta, no dom da solidariedade, na empatia com outro, no bem comum, compaixão e perdão. O Papa Francisco fala da ‘globalização da indiferença’ e do assobiar para canto. O remédio contra o mal e apatia é fazer bem, retirar de nós o ódio, o desinteresse e a escravização do próximo. O culto das criaturas torna-nos escravos do efémero e descartável, leva ao desespero, tristeza, cegueira, auto-endeusamento e auto-suficiência e mergulha-nos na ilusão do ‘eclipse de Deus’, vegetando impenitentes, sem arrependimento e dor de coração.
  
2.- A Quaresma prepara a Páscoa da Ressurreição, a nova criação e a vida gloriosa, com a ascese, a conversão e a passagem obrigatória pela morte e dom de si, imitando Jesus que veio, para dar a vida por nós, renunciando ao poder e à glória. A Quaresma deve levar-nos à imitação de Cristo, à renúncia, ao êxodo, à partilha e ao amor fraterno.

Deus encarnou, fez-se um de nós, para termos “os mesmos sentimentos que existiam em Cristo Jesus” (Fil.2,5), imitando-o, dando a vida, saindo de nós, indo ao encontro e ajudando, pois “há mais alegria em dar que em receber”(Act.20,35). Há que anunciar Cristo, com coragem, alegria e convicção, sem medo, nem vergonha, e amar os pobres, com fraterna solicitude, pois Deus quer ser encontrado e servido neles.

A renúncia é a penitência que nos impomos e a ressurreição esperada é precedida da paixão e morte de Jesus, que viveu a condição humana, morreu uma só vez, para, na carne assumida, viver, para sempre, com o Pai, na unidade do Espírito Santo. A dádiva do despojamento e sacrifício prepara a alegria duradoura de amar e ser amados, por Aquele que amou primeiro e nos surpreendeu, com a dádiva da vida, assumida no seio de Maria Santíssima, e que Ele, voluntariamente, ofereceu por nós no altar da cruz.  

3.- A vida moderna é de progresso técnico e de benefícios e malefícios dos meios de comunicação, rápidos e maravilhosos. O que sucede, aqui e agora, é, imediatamente, conhecido, em todo o mundo. A informação torna o mundo diversificado e plural, uma aldeia global, bombardeada por várias propostas e modos de viver e ver o mundo, que não ajudam, automaticamente, a gente a criar entendimento, amizade e reconciliação. As pessoas vivem fechadas, no egoísmo e narcisismo, vítimas do progresso. Volta-se o feitiço contra o feiticeiro. Cresce a apatia, a indiferença e insensibilidade. Não se olha o bem comum. Não há solidariedade. A informação faz a aldeia global, mas não ajuda a amizade, a empatia e o encontro humano. Bento XVI observou, que as técnicas de comunicação nos fazem vizinhos, mas não obrigatoriamente irmãos uns dos outros.

4. O cristão ama, partilha e dá, com solicitude, para mitigar a dor e miséria dos outros. Os Peditórios Paroquiais, para os fins indicados, pela Igreja, e o Contributo Penitencial Quaresmal ou Bula da Cruzada, sob tutela do Bispo, fazem-se para ajudar necessidades elencadas e específicas. Mas, para lá dessas dádivas, cada fiel pode e deve praticar a Renúncia Voluntária, que a si mesmo se impõe, privando-se do que entende. A recolha diocesana da Renúncia Voluntária, dita Quaresmal, feita ao longo do ano, é canalizada, pelo bispo diocesano, para fim apropriado, segundo ditame da sua solicitude pastoral.

A Renúncia destina-se aos necessitados, socorridos pela privação voluntária de muitos. Na diocese de Vila Real, no ano passado, a Renúncia reverteu, para o Fundo Social Diocesano, ao qual, em especial, a Caritas Diocesana está associada.

A Renúncia Voluntária deste ano reverte para as Conferências de S. Vicente de Paulo, como gesto de apreço, no Jubileu do Bem-Aventurado Frederico Ozanam, nascido a 23 de Abril de 1813. As conferências testemunham o amor de Deus, em Cristo, que quer ser servido nos pobres. O Bem-Aventurado Ozanam, na senda de S. Vicente de Paulo, deixou-nos um instrumento, que devemos vitalizar e expandir na Diocese, pois a fé sem obras é morta. A fé exige as obras de caridade e estas são a manifestação da fé viva, coerente e consequente, pois “pregar e não praticar é parecer-se com o sino que toca para a missa e nunca lá aparece”, como diz S. Francisco de Sales.

Há que recrutar e formar gente nova, que testemunhe a fé e a caridade, com a prática das Obras de Misericórdia, a ajuda, o conforto e serviço aos indigentes e abandonados. Unido a todos, na fé e na oração a Deus, Vos saúda o Vosso bispo, que pede a Deus Misericordioso que Vos abençoe e recompense pelo bem feito aos pobres.

Vila Real, 2 de Fevereiro de 2014

+ Amândio José Tomás  

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